29.12.04

JACARÉ E A LAGARTIXA 16 (Dezembro 2004)

CONDUÇÃO ERRÁTICA E (NÃO) COLIGAÇÃO

No PSD de hoje não adianta procurar qualquer ordem, qualquer estratégia, qualquer táctica para além da mais imediata gestão jornalística (feita por empresas de relações públicas) da propaganda. Na realidade, não há direcção política no sentido de não haver estratégia política, pagando-se o preço da deterioração da qualidade dos órgãos dirigentes, que já vem de longe, e da tendência perniciosa para se transformar num partido unipessoal. Como a liderança é errática até dizer chega, o partido tornou-se errático e funciona aos surtos contraditórios. No interior do partido e no grupo parlamentar é obvio que há actividades de existência e sobrevivência, mais reactivas aos lugares e à perda deles, mas a capacidade de influência no país e a atracção dos melhores para o partido e para a política está a um grau zero.
No partido, há “camisola” em muitos militantes que tem genuína vontade de mudar o país. Mas há muita impotência e perplexidade. E política há pouca. Se excluíssemos a jigajoga com o PS (a que o PS responde igualmente entoando a sua jigajoga) pouco sobraria. Se proibíssemos as acusações mútuas do género “vocês fizeram isto e nós aquilo”, que noutra ecologia têm todo o sentido existir, ficaria um enorme vazio O modo como toda a questão da coligação com o PP foi tratada é exemplar desse vazio político e deu ao país uma imagem de confusão e de mero apetite pelo poder.
Andou-se quinze dias a dizer sim e não, conforme os dias e as horas do dia e a impressão que fica é que o PSD a desejava e o PP, altaneiro, a recusou ou dificultou. A coligação começou por ser contra-natura na história ideológica do PSD visto que, nem de perto nem de longe tinha alguma coisa a ver com a AD do passado. Acabou por ser um expediente de governo que se foi tornando, à custa do PSD, numa dependência eleitoral como retrato da falta de confiança que Durão Barroso tinha na sua capacidade de ganhar eleições. Foi assim nas eleições europeias, com os resultados desastrosos para o PSD que se viu. O PSD já teve e pediu maiorias absolutas, lembram-se, ainda havia dinossauros na terra? Agora o PSD mendiga uma aliança com o PP e o PP dá-se ao luxo de fazer a rábula do caro. E tudo acabou. E ambos avaliam mal o desastre para que caminham
As razões nacionais para a coligação, caso existam, delas ninguém falou. Foi a pura ponderação de sondagens e a distribuição de lugares, tornados escassas pelas más perspectivas eleitorais, que levaram à decisão. A retórica dos dois dirigentes não oculta a triste realidade de fim de festa.


A MELHOR FOTO DA SEMANA: UMA FOTO QUE DIZ QUASE TUDO

Esta foto de António Pedro Ferreira,publicada no Expresso desta semana,é um daqueles retratos perfeitos de tudo: das pessoas, da situação, da postura, faces, olhares, de com quem estamos metidos. Ali estão três pessoas que deveriam ser as mais poderosas de Portugal: Primeiro-ministro, Ministro de Estado responsável pela economia, e Ministro da Defesa. Cinco ou seis maiúsculas nos títulos. São poderosas mas não são tão poderosas como pensam. O poder parece só pesar a Álvaro Barreto, que é o único que está preocupado e parece não achar graça nenhuma ao que se está a passar. Tem toda a razão. O que se está a passar é o debate do Orçamento e as trapalhadas que levaram à dissolução. Os outros dois são jongleurs, jogadores da ribalta mediático-política, hábeis, sobreviventes do cimo da onda, mestres na espuma em que nos estamos tornando. Diante dos seus olhos está sempre um espelho, nunca um país. Querem lá saber do peso que Álvaro Barreto carrega aos ombros. O Primeiro-ministro está no gozo ao telefone, a mão tapa a conversa do seu vizinho do lado mas quase que se advinham as palavras. Uma coisa é certa: não são assuntos de estado. O Ministro da Defesa está satisfeito, com a mão no Velho Dinheiro, que tanto glorificou no Independente, e o olhar no mundo do Novo Dinheiro que tanto ajudou a estabelecer-se quanto dele pensa ser imune e superior. O seu sorriso diz-nos: o mundo é meu. Um certo Portugal está ali e não está a acabar.


O RETORNO DO PAULINHO DAS FEIRAS

Um editorial do Diário de Notícias desta semana tem toda a razão: a fronda de Portas contra os bancos é o retorno do “Paulinho das feiras”, tal como ele foi sempre. A ridícula adoração de alguns jovens direitistas aos “princípios” de Portas é um dos mal-entendidos mais completos que existe em Portugal. Portas não acredita em nada. É raro o caso na vida política portuguesa de uma ambição de poder tão pura, nua, cruel, amoral e cínica como a de Paulo Portas. Que Portas não acredita em nada, a não ser na predestinação dessa ambição, quem o leia há muito tempo não tem, sobre isso a mínima dúvida. Do cinismo à Vasco Pulido Valente sobre os portugueses ao patriotismo nacionalista serôdio, das invectivas moralistas do Catão do Independente à sinecura ambígua da Universidade Moderna, do anti-europeismo da palmeta e da pêra-rocha ao “sim” à Constituição Europeia, ele fará e ele será o que for preciso, quando for preciso.


O MUNDO GOOGLE

Se a nossa atenção se dirigisse para as coisas verdadeiramente importantes para o futuro (para o presente a atenção deve olhar para outras coisas) acompanharíamos, com a mesma atenção que a imprensa de referência internacional dá, tudo o que diz respeito ao mundo dos dados em linha e dos motores de busca. Ou por ordem inversa, de como através dos motores de busca chegamos às informações que precisamos. Quem no futuro controlar o modo como acedemos às informações, e mais importantes ainda, aos espectáculos, à televisão, á música, aos filmes, aos jogos, à virtualidade, a tudo o que é entretenimento,


UM PRÉMIO PARA UM BLOGUE PORTUGUÊS

Um blogue, o Ponto Media de António Granado ,ganhou um importante prémio europeu, o BOB (Best of Blogs) para o melhor blogue jornalístico em português, dado pela emissora alemã Deutsche Welle. O Ponto Media é um blogue despojado, uma colecção especializada de ligações, com textos, notícias, sítios, e blogues sobre comunicação social. Granado acrescenta poucas palavras às suas ligações, e o resultado é um instrumento de trabalho ligeiro e actualizado, indispensável aos especialistas e aos curiosos. Ele vive de uma das tradições, que é também uma das suas grandes virtualidades, da rede – o hipertexto enciclopédico, o Livro dos Livros.
O sucesso merecido de um blogue português deve chamar a atenção para o dinamismo da blogosfera portuguesa cujos ratings são internacionalmente reconhecidos: dois blogues portugueses fazem parte da lista dos cem mais “ligados” num universo de dois milhões e quinhentos mil na lista referência da Technorati. Há que reconhecer que os blogues portugueses portam-se bem melhor na competição internacional do que muitos outros produtos culturais. E ainda só estão a começar.

1 Comments:

Blogger António Granado said...

Muito obrigado pela referência.
Um Bom 2005!

10:14 da tarde  

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