A LAGARTIXA E O JACARÉ 7 (Outubro 2004)
A escolha do Diabo
Como não sou socialista, a escolha do PS deveria ser-me indiferente. Mas os socialistas irão governar o país, mais cedo ou mais tarde, na inevitável alternância do poder, e, infelizmente, têm até condições para que o consigam mais cedo do que tarde, caso tudo continue como está do lado do governo e do PSD.
Nunca houve em todo este debate uma verdadeira escolha entre Alegre e Sócrates. Sócrates tinha com ele o que faz mover os partidos, a promessa do poder, a possibilidade do poder. Tinha esse poder não só para o aparelho, mas para a esmagadora maioria dos militantes socialistas, como revelaram os resultados. Para o PS, é obvio que é um melhor negócio eleitoral ter Sócrates do que Alegre, e foi em grande parte por isso que ele ganhou como ganhou.
O nome dessa possibilidade do poder chama-se no PS “guterrismo”, o estilo, o método de António Guterres, que, insisto, para quem tende a esquecê-lo, representou um dos maiores descalabros da governação em Portugal. Foi, nem mais nem menos, o governo que condições mais favoráveis teve para dar um sério impulso modernizador a Portugal, com uma chuva de dinheiro contínua, e esbanjou tudo sem resultados e sem destino, deixando o país seriamente endividado. Gastou o que tinha e o que não tinha, para gáudio da multidão que respira o dinheiro do estado, adiou qualquer reforma de fundo, deixou o país impreparado para uma dificuldade futura. Quando essa dificuldade começou a surgir, Guterres retirou-se sem glória, fugindo ás responsabilidades.
O socialismo esquerdista de Alegre, se chegasse ao governo, provocaria uma crise de confiança nos meios económicos, perturbações institucionais e sociais, greves, mais “direitos adquiridos” que se solidificariam como betão instantâneo, mais retórica esquerdista, mais défice público. O socialismo sorridente de Sócrates-Guterres deixará, como deixou, uma mentalidade de facilitismo e um enorme rasto de despesa. À sua volta juntar-se-á de imediato todo o bando de suplicantes do estado, aliás os mesmos que transitaram de Guterres para Lopes (desconto o governo Barroso porque a política de contenção do défice de Manuela Ferreira Leite era odiada pelos suplicantes). O problema, meus amigos, não é apenas o PS deslocar-se para o centro político, deixado vazio pela inflexão do PSD para a direita, é conquistar o centro com um programa reformista e não apenas estatizante e gastador. E isso o PS nunca fez, e é contrário à natureza do guterrismo.
A pergunta que me interessa é: qual é o mais difícil de corrigir depois? Ambos certamente são maus, mas o guterrismo é sempre pior. Pode ser mais eficaz em conseguir o poder, como se viu e poderá ver, é mais popular, mas cola-se como Supercola aos defeitos colectivos dos portugueses. Por tudo isso , é mais complicado de remediar, por quem vier a seguir.
Impunidade da brigada da adrenalina
A adrenalina é uma hormona com boa imprensa, como se lê a propósito das corridas ilegais que mataram esta semana três pessoas. Pois é, mas é difícil construir uma sociedade minimamente civilizada com base na exibição da adrenalina, por isso essas corridas são criminosas, como se viu, e a minimização do crime que se lê por todo o lado não augura nada de bom. Até os bons liberais argumentam que, se eles se querem matar é lá com eles, corredores e espectadores, porque deve haver liberdade para o suicídio. Sucede que eu, como bom social-democrata, entendo que a sociedade deve pagar os custos médicos mesmo aos suicidas, e entendo que uma coisa é suicidar-se e outra coisa é ser “suicidado”.
Bullshit… A brigada da adrenalina que se quotize para arranjar um autódromo, ou peça um subsídio do estado, que paga já tanta coisa absurda, para financiar o tuning. O que não me venham é com desculpas, nem quanto à gravidade do que fazem, nem quanto ao crime de morte. Ah, e de passagem, a polícia que me explique porque razão é que centenas de pessoas sabem com antecedência onde são as corridas, e a polícia que conhece o meio, insisto que conhece o meio, nada pode fazer
Um que não muda, no meio do catavento
Mérito ao Ministro da Saúde, que articulado e conhecedor, materializa uma continuidade exemplar nas políticas do seu sector desde o governo Barroso, para o de Santana Lopes. Confrontando um dos mais temíveis adversários socialistas, Correia de Campos, identicamente sabedor e competente, saiu-se bem do debate dos Prós e Contras. Sabe o que faz, sabe o que quer e já obteve resultados. Se conseguir impedir que o Primeiro-ministro fale demais e precipitadamente, como fez a propósito das “taxas moderadoras”, poderá ser a imagem de um impulso reformista que hoje escasseia.
É uma excepção num governo que já mudou muito: já mudou a política externa num aspecto simbólico, o Iraque, em que passamos de membros de boa fé da coligação, para membros de má fé. Mudou a política das finanças, com o fim da “obsessão” do défice, para o défice “ao serviço do crescimento”. Para não falar do resto.
Um prato com o Sol
Dos destroços da sonda Génesis parece ter sobrado o suficiente para que um dos objectivos científicos da missão possa ser cumprido: o estudo do vento solar, o estudo da atmosfera solar e da sua composição química. Este prato simples contendo fragmentos de “vidros” muito especiais, partidos pelo impacto da desastrosa aterragem é a esperança de que se possa dar um enorme salto em frente para o conhecimento da estrela a que devemos a vida. Naqueles “vidros” de cores, que parecem bocados de um vitral, está parte da explicação da energia que move as folhas do loureiro que está à minha frente, que lhe dá a cor verde, que o faz respirar, que transporta a água da chuva que o rega. Bom, de quase tudo
A escolha do Diabo
Como não sou socialista, a escolha do PS deveria ser-me indiferente. Mas os socialistas irão governar o país, mais cedo ou mais tarde, na inevitável alternância do poder, e, infelizmente, têm até condições para que o consigam mais cedo do que tarde, caso tudo continue como está do lado do governo e do PSD.
Nunca houve em todo este debate uma verdadeira escolha entre Alegre e Sócrates. Sócrates tinha com ele o que faz mover os partidos, a promessa do poder, a possibilidade do poder. Tinha esse poder não só para o aparelho, mas para a esmagadora maioria dos militantes socialistas, como revelaram os resultados. Para o PS, é obvio que é um melhor negócio eleitoral ter Sócrates do que Alegre, e foi em grande parte por isso que ele ganhou como ganhou.
O nome dessa possibilidade do poder chama-se no PS “guterrismo”, o estilo, o método de António Guterres, que, insisto, para quem tende a esquecê-lo, representou um dos maiores descalabros da governação em Portugal. Foi, nem mais nem menos, o governo que condições mais favoráveis teve para dar um sério impulso modernizador a Portugal, com uma chuva de dinheiro contínua, e esbanjou tudo sem resultados e sem destino, deixando o país seriamente endividado. Gastou o que tinha e o que não tinha, para gáudio da multidão que respira o dinheiro do estado, adiou qualquer reforma de fundo, deixou o país impreparado para uma dificuldade futura. Quando essa dificuldade começou a surgir, Guterres retirou-se sem glória, fugindo ás responsabilidades.
O socialismo esquerdista de Alegre, se chegasse ao governo, provocaria uma crise de confiança nos meios económicos, perturbações institucionais e sociais, greves, mais “direitos adquiridos” que se solidificariam como betão instantâneo, mais retórica esquerdista, mais défice público. O socialismo sorridente de Sócrates-Guterres deixará, como deixou, uma mentalidade de facilitismo e um enorme rasto de despesa. À sua volta juntar-se-á de imediato todo o bando de suplicantes do estado, aliás os mesmos que transitaram de Guterres para Lopes (desconto o governo Barroso porque a política de contenção do défice de Manuela Ferreira Leite era odiada pelos suplicantes). O problema, meus amigos, não é apenas o PS deslocar-se para o centro político, deixado vazio pela inflexão do PSD para a direita, é conquistar o centro com um programa reformista e não apenas estatizante e gastador. E isso o PS nunca fez, e é contrário à natureza do guterrismo.
A pergunta que me interessa é: qual é o mais difícil de corrigir depois? Ambos certamente são maus, mas o guterrismo é sempre pior. Pode ser mais eficaz em conseguir o poder, como se viu e poderá ver, é mais popular, mas cola-se como Supercola aos defeitos colectivos dos portugueses. Por tudo isso , é mais complicado de remediar, por quem vier a seguir.
Impunidade da brigada da adrenalina
A adrenalina é uma hormona com boa imprensa, como se lê a propósito das corridas ilegais que mataram esta semana três pessoas. Pois é, mas é difícil construir uma sociedade minimamente civilizada com base na exibição da adrenalina, por isso essas corridas são criminosas, como se viu, e a minimização do crime que se lê por todo o lado não augura nada de bom. Até os bons liberais argumentam que, se eles se querem matar é lá com eles, corredores e espectadores, porque deve haver liberdade para o suicídio. Sucede que eu, como bom social-democrata, entendo que a sociedade deve pagar os custos médicos mesmo aos suicidas, e entendo que uma coisa é suicidar-se e outra coisa é ser “suicidado”.
Bullshit… A brigada da adrenalina que se quotize para arranjar um autódromo, ou peça um subsídio do estado, que paga já tanta coisa absurda, para financiar o tuning. O que não me venham é com desculpas, nem quanto à gravidade do que fazem, nem quanto ao crime de morte. Ah, e de passagem, a polícia que me explique porque razão é que centenas de pessoas sabem com antecedência onde são as corridas, e a polícia que conhece o meio, insisto que conhece o meio, nada pode fazer
Um que não muda, no meio do catavento
Mérito ao Ministro da Saúde, que articulado e conhecedor, materializa uma continuidade exemplar nas políticas do seu sector desde o governo Barroso, para o de Santana Lopes. Confrontando um dos mais temíveis adversários socialistas, Correia de Campos, identicamente sabedor e competente, saiu-se bem do debate dos Prós e Contras. Sabe o que faz, sabe o que quer e já obteve resultados. Se conseguir impedir que o Primeiro-ministro fale demais e precipitadamente, como fez a propósito das “taxas moderadoras”, poderá ser a imagem de um impulso reformista que hoje escasseia.
É uma excepção num governo que já mudou muito: já mudou a política externa num aspecto simbólico, o Iraque, em que passamos de membros de boa fé da coligação, para membros de má fé. Mudou a política das finanças, com o fim da “obsessão” do défice, para o défice “ao serviço do crescimento”. Para não falar do resto.
Um prato com o Sol
Dos destroços da sonda Génesis parece ter sobrado o suficiente para que um dos objectivos científicos da missão possa ser cumprido: o estudo do vento solar, o estudo da atmosfera solar e da sua composição química. Este prato simples contendo fragmentos de “vidros” muito especiais, partidos pelo impacto da desastrosa aterragem é a esperança de que se possa dar um enorme salto em frente para o conhecimento da estrela a que devemos a vida. Naqueles “vidros” de cores, que parecem bocados de um vitral, está parte da explicação da energia que move as folhas do loureiro que está à minha frente, que lhe dá a cor verde, que o faz respirar, que transporta a água da chuva que o rega. Bom, de quase tudo
1 Comments:
Pelo andar dos acontecimentos, a chegada dos «socialistas» ao poder é mais do que provável, é uma fatalidade, por muito que trabalhe a dita Central, com o prestimoso concurso do inefável Delgado.
Todo o drama está em comprovar que o PSD terá, canhestramente, desperdiçado uma excelente oportunidade de corrigir os vícios guterristas da Governação.
Depois, carpir-se-á um tanto, mas sem remédio, para os que a seu tempo avisaram, mas pior ainda para o país, que de novo se verá nas mesmas mãos perdulárias dos modernos e sorridentes socialistas.
De novo assistiremos a uma generosa distribuição de sinecuras, no Estado, nos Institutos e nas Empresas em que aquele conserva as suas quotas douradas.
E tudo voltará ao princípio para o PSD, que, em matéria de organização, na vida social e nas Empresas, continua na sua idade da pedra, numa completa imobilidade inconsciente e cega, mas de cuja realidade ninguém parece curar.
Se não se buscar uma alternativa ao presente estado de coisas no PSD, a marcha para o «abismo socrático» parece inexorável.
Quousque tandem...
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