OS "CONSELHOS" EUROPEUS AOS EUA (Novembro 2002)
Quem tem errado nas suas análises e previsões, umas atrás das outras, têm sido muitos destes europeus, que se acham milhas acima do intelecto de Bush, como aliás já pensavam o mesmo de Nixon e de Reagan, hoje considerados dos mais importantes presidentes americanos do século XX.
Muita gente já não se lembra, ou não se quer lembrar, que a unidade da Europa, que começou na Comunidade do Carvão e do Aço e que deu origem à União Europeia, foi resultado de uma iniciativa americana. Essa iniciativa apontava para a construção de uma Europa pacífica e próspera, com o Plano Marshall como instrumento da reconstrução económica, em torno do qual se estabilizaram democracias em risco como a França e a Itália.
A construção da unidade europeia foi, por isso, uma consequência da política externa americana para a Europa e constituía uma chave-mestra da nova ordem mundial do pós-guerra. Os EUA fizeram da unidade europeia um elemento essencial da sua política de segurança, materializada numa aliança transatlântica entre a Europa e os EUA, baseada na NATO, que servisse de travão ao expansionismo comunista. Movimentos políticos pró-europeístas e favoráveis ao federalismo, como o Movimento Europeu, foram criados, controlados e financiados extensivamente pela CIA, como revelam documentos recentemente desclassificados.
Por tudo isto, a União Europeia, sem a relação transatlântica com os EUA, seria uma outra entidade alienígena, sem qualquer relação com o seu movimento fundador. A tentativa evidente e clara, nos nossos dias, de querer construir uma Europa "independente", uma "superpotência" europeia antiamericana, é por isso um projecto de uma outra natureza, com consequência impensáveis e, a meu ver, nefastas para a própria unidade da Europa. É isto que, num certo sentido, alguma esquerda europeia quer, sem medir que um dos efeitos que certamente provocará - como já está a provocar - é a irrelevância política da Europa entregue a si própria, ou, no pior cenário, a degradação da própria União Europeia.
A eleição do Presidente Bush foi a gota de água nesse antiamericanismo esquerdizante (e que alguma direita apoia). Os socialistas europeus gostavam de Clinton, apesar de este ter feito, de uma forma desastrada, algumas coisas idênticas às que Bush também fez, e passaram a tratar os EUA como se fosse um país liderado por um imbecil belicista que quer colocar o mundo à beira da destruição. E no entanto... quem tem errado nas suas análises e previsões, umas atrás das outras, têm sido muitos destes europeus, que se acham milhas acima do intelecto de Bush, como aliás já pensavam o mesmo de Nixon e de Reagan, hoje considerados dos mais importantes presidentes americanos do século XX.
A soma dos erros europeus é grande. Os diplomatas e governantes europeus andaram a dizer aos EUA que a Rússia nunca aceitaria que o alargamento da NATO chegasse às suas fronteiras. Não só chegou, como na próxima cimeira de Praga, ainda chegará mais. E, em vez de um retorno à "guerra fria", os EUA consideram a Rússia como nunca tendo estado mais próxima, sendo classificada de "parceiro estratégico" nos seus documentos de segurança.
Os diplomatas e governantes europeus passaram todo o tempo a dizer aos EUA que a guerra no Afeganistão iria ser um desastre: lembravam-lhe os desaires dos ingleses no século XIX, e as atribulações russas. O Afeganistão era, diziam, "inconquistável". Foi o que se viu.
Os diplomatas e governantes europeus diziam que o ataque aos taliban iria desencadear uma verdadeira revolta das massas muçulmanas, a queda do Paquistão no caos, tumultos de consequências impensáveis, desde Marrocos à Indonésia. Foi também o que se viu.
Todos estas previsões apocalípticas e "conselhos" que foram feitos quanto ao Afeganistão são agora feitos, do mesmo modo, quanto ao Iraque. O caso do Iraque é claramente um exemplo do desfasamento europeu da realidade dos factos e da incompetência diplomática e política europeia. Após dez anos de violação sistemática pelo Iraque das resoluções das Nações Unidas, os EUA preocupados - ou informados - da probabilidade do Iraque estar a construir armas de destruição em massa, ameaçaram com uma intervenção militar. Os europeus clamaram por "mais diplomacia", eles que em dez anos fecharam os olhos aos programas de armamento iraquianos - que conheciam - e que tiveram todo este tempo para usar toda a diplomacia que quisessem. O Iraque, como é óbvio, não prestou nenhuma atenção à diplomacia europeia, mas prestou a atenção devida à ameaça da força militar americana. Se hoje os inspectores voltaram a Bagdad, é por único e exclusivo mérito americano.
Nesse mérito inclui-se também uma grande vitória diplomática americana - a votação unânime do Conselho de Segurança - o que mostra o apoio crescente à política externa americana, e que nenhuma previsão dos nossos europeístas antiamericanos foi capaz de antecipar. Eles especularam que não foi Bush, mas Colin Powell que o conseguiu, porque no fundo continuam convencidos de que têm sempre razão. Mais ainda: todos os que votaram no Conselho de Segurança sabiam que, ao o fazerem, estavam a legitimar uma possível intervenção militar dos EUA e dos seus aliados - que certamente aparecerão em abundância à última hora -, porque todos sabem que Saddam não permitirá qualquer inspecção a sério.
Os europeus antiamericanos clamam também que, em contraste com os EUA, que só combatem os "efeitos" do terrorismo, eles por seu lado combatem as "causas", como aconteceu na Palestina. Em consequência disso, nunca ninguém deu tanto dinheiro ao "povo palestiniano" como a União Europeia. No entanto, a União Europeia permanece completamente indiferente ao facto de que a Autoridade Palestiniana está minada pela corrupção e que muito desse dinheiro nunca chega ao "povo". E também tem fechado os olhos ao facto de algum dele ter ido para os grupos de terroristas que combatem Israel. A verdade é que nos momentos cruciais em que se poderia pensar que, com tanto apoio financeiro, a União Europeia tivesse influência junto dos palestinianos, ela revela-se nula. Do mesmo modo, comentários completamente insensatos, vindos de responsáveis da União, destruíram quaisquer laços com Israel, pelo que no conflito no Médio Oriente, a União Europeia está impotente. Não custa muito antecipar que, a prazo, se houver um Estado palestiniano, e uma estabilização da região, ela deverá mais aos EUA do que à União Europeia.
Todas estas diferenças se agravaram depois do 11 de Setembro. Enquanto os EUA apelidaram o atentado terrorista de "acto de guerra", muitos governos europeus recusaram tal classificação. Já hoje ninguém se lembra, mas quando, desde o primeiro momento, os americanos apontaram Bin Laden como responsável, houve comentários irónicos, em que se destacou o engenheiro Guterres, dizendo que ninguém ia para a "guerra" contra um "inimigo imaginário". Para muitos governos europeus, não tinha nenhum sentido falar em "guerra", e Bin Laden era uma personagem minimizada. Um ano depois, as bombas de Bali, os atentados no Kuwait, os atentados falhados em Londres, mostram bem a realidade da "guerra" que na Europa não se queria nem se quer ver. É só uma questão de tempo e ela bate-nos à porta.
O problema da Europa hoje é de credibilidade. Somando "conselhos" sobre "conselhos" deste calibre, muito responsáveis da UE tem feito tudo para reforçar o unilateralismo dos EUA, a reacção esquemática e igualmente nefasta do lado americano à má-fé europeia. É um péssimo caminho.
Quem tem errado nas suas análises e previsões, umas atrás das outras, têm sido muitos destes europeus, que se acham milhas acima do intelecto de Bush, como aliás já pensavam o mesmo de Nixon e de Reagan, hoje considerados dos mais importantes presidentes americanos do século XX.
Muita gente já não se lembra, ou não se quer lembrar, que a unidade da Europa, que começou na Comunidade do Carvão e do Aço e que deu origem à União Europeia, foi resultado de uma iniciativa americana. Essa iniciativa apontava para a construção de uma Europa pacífica e próspera, com o Plano Marshall como instrumento da reconstrução económica, em torno do qual se estabilizaram democracias em risco como a França e a Itália.
A construção da unidade europeia foi, por isso, uma consequência da política externa americana para a Europa e constituía uma chave-mestra da nova ordem mundial do pós-guerra. Os EUA fizeram da unidade europeia um elemento essencial da sua política de segurança, materializada numa aliança transatlântica entre a Europa e os EUA, baseada na NATO, que servisse de travão ao expansionismo comunista. Movimentos políticos pró-europeístas e favoráveis ao federalismo, como o Movimento Europeu, foram criados, controlados e financiados extensivamente pela CIA, como revelam documentos recentemente desclassificados.
Por tudo isto, a União Europeia, sem a relação transatlântica com os EUA, seria uma outra entidade alienígena, sem qualquer relação com o seu movimento fundador. A tentativa evidente e clara, nos nossos dias, de querer construir uma Europa "independente", uma "superpotência" europeia antiamericana, é por isso um projecto de uma outra natureza, com consequência impensáveis e, a meu ver, nefastas para a própria unidade da Europa. É isto que, num certo sentido, alguma esquerda europeia quer, sem medir que um dos efeitos que certamente provocará - como já está a provocar - é a irrelevância política da Europa entregue a si própria, ou, no pior cenário, a degradação da própria União Europeia.
A eleição do Presidente Bush foi a gota de água nesse antiamericanismo esquerdizante (e que alguma direita apoia). Os socialistas europeus gostavam de Clinton, apesar de este ter feito, de uma forma desastrada, algumas coisas idênticas às que Bush também fez, e passaram a tratar os EUA como se fosse um país liderado por um imbecil belicista que quer colocar o mundo à beira da destruição. E no entanto... quem tem errado nas suas análises e previsões, umas atrás das outras, têm sido muitos destes europeus, que se acham milhas acima do intelecto de Bush, como aliás já pensavam o mesmo de Nixon e de Reagan, hoje considerados dos mais importantes presidentes americanos do século XX.
A soma dos erros europeus é grande. Os diplomatas e governantes europeus andaram a dizer aos EUA que a Rússia nunca aceitaria que o alargamento da NATO chegasse às suas fronteiras. Não só chegou, como na próxima cimeira de Praga, ainda chegará mais. E, em vez de um retorno à "guerra fria", os EUA consideram a Rússia como nunca tendo estado mais próxima, sendo classificada de "parceiro estratégico" nos seus documentos de segurança.
Os diplomatas e governantes europeus passaram todo o tempo a dizer aos EUA que a guerra no Afeganistão iria ser um desastre: lembravam-lhe os desaires dos ingleses no século XIX, e as atribulações russas. O Afeganistão era, diziam, "inconquistável". Foi o que se viu.
Os diplomatas e governantes europeus diziam que o ataque aos taliban iria desencadear uma verdadeira revolta das massas muçulmanas, a queda do Paquistão no caos, tumultos de consequências impensáveis, desde Marrocos à Indonésia. Foi também o que se viu.
Todos estas previsões apocalípticas e "conselhos" que foram feitos quanto ao Afeganistão são agora feitos, do mesmo modo, quanto ao Iraque. O caso do Iraque é claramente um exemplo do desfasamento europeu da realidade dos factos e da incompetência diplomática e política europeia. Após dez anos de violação sistemática pelo Iraque das resoluções das Nações Unidas, os EUA preocupados - ou informados - da probabilidade do Iraque estar a construir armas de destruição em massa, ameaçaram com uma intervenção militar. Os europeus clamaram por "mais diplomacia", eles que em dez anos fecharam os olhos aos programas de armamento iraquianos - que conheciam - e que tiveram todo este tempo para usar toda a diplomacia que quisessem. O Iraque, como é óbvio, não prestou nenhuma atenção à diplomacia europeia, mas prestou a atenção devida à ameaça da força militar americana. Se hoje os inspectores voltaram a Bagdad, é por único e exclusivo mérito americano.
Nesse mérito inclui-se também uma grande vitória diplomática americana - a votação unânime do Conselho de Segurança - o que mostra o apoio crescente à política externa americana, e que nenhuma previsão dos nossos europeístas antiamericanos foi capaz de antecipar. Eles especularam que não foi Bush, mas Colin Powell que o conseguiu, porque no fundo continuam convencidos de que têm sempre razão. Mais ainda: todos os que votaram no Conselho de Segurança sabiam que, ao o fazerem, estavam a legitimar uma possível intervenção militar dos EUA e dos seus aliados - que certamente aparecerão em abundância à última hora -, porque todos sabem que Saddam não permitirá qualquer inspecção a sério.
Os europeus antiamericanos clamam também que, em contraste com os EUA, que só combatem os "efeitos" do terrorismo, eles por seu lado combatem as "causas", como aconteceu na Palestina. Em consequência disso, nunca ninguém deu tanto dinheiro ao "povo palestiniano" como a União Europeia. No entanto, a União Europeia permanece completamente indiferente ao facto de que a Autoridade Palestiniana está minada pela corrupção e que muito desse dinheiro nunca chega ao "povo". E também tem fechado os olhos ao facto de algum dele ter ido para os grupos de terroristas que combatem Israel. A verdade é que nos momentos cruciais em que se poderia pensar que, com tanto apoio financeiro, a União Europeia tivesse influência junto dos palestinianos, ela revela-se nula. Do mesmo modo, comentários completamente insensatos, vindos de responsáveis da União, destruíram quaisquer laços com Israel, pelo que no conflito no Médio Oriente, a União Europeia está impotente. Não custa muito antecipar que, a prazo, se houver um Estado palestiniano, e uma estabilização da região, ela deverá mais aos EUA do que à União Europeia.
Todas estas diferenças se agravaram depois do 11 de Setembro. Enquanto os EUA apelidaram o atentado terrorista de "acto de guerra", muitos governos europeus recusaram tal classificação. Já hoje ninguém se lembra, mas quando, desde o primeiro momento, os americanos apontaram Bin Laden como responsável, houve comentários irónicos, em que se destacou o engenheiro Guterres, dizendo que ninguém ia para a "guerra" contra um "inimigo imaginário". Para muitos governos europeus, não tinha nenhum sentido falar em "guerra", e Bin Laden era uma personagem minimizada. Um ano depois, as bombas de Bali, os atentados no Kuwait, os atentados falhados em Londres, mostram bem a realidade da "guerra" que na Europa não se queria nem se quer ver. É só uma questão de tempo e ela bate-nos à porta.
O problema da Europa hoje é de credibilidade. Somando "conselhos" sobre "conselhos" deste calibre, muito responsáveis da UE tem feito tudo para reforçar o unilateralismo dos EUA, a reacção esquemática e igualmente nefasta do lado americano à má-fé europeia. É um péssimo caminho.