O PSD À ESQUERDA E À DIREITA (Dezembro 2001)
Sempre me pareceu sólida doutrina, Sá carmeirista pura e dura, vertida em textos de grande rigor teórico, pouco habituais para as nossas épocas de princípios elásticos, nunca existir nenhum problema com uma hipotética aliança do PSD com partidos ou grupos à sua direita , se ... O "se " estava também lá exposto nos textos do fundador, com idêntica forma cristalina: se o PSD não comprometesse nessa aliança o seu lugar na política portuguesa de partido que se posicionava entre o centro esquerda e o centro direita , como partido reformista cujo principal objectivo é combater contra o atraso nacional , Ou seja , o PSD não pode , em qualquer aliança à sua direita , alienar o centro esquerda e cair na armadilha de se deixar apresentar como cabeça de uma frente de direita contra uma frente de esquerda . Pelo contrário, o PSD pode e deve falar para a sua direita, como o deve fazer á sua esquerda , sem hipotecar o modelo reformista da sua génese que aliás está bem expresso no seu programa . Este nasceu de uma fusão "histórica” , ou seja que só existiu na história concreta , entre um personalismo de raiz cristã , um liberalismo de raiz burguesa e um principio de justiça social de raiz social democrática .
O escândalo que motivaram as palavras de Cavaco Silva de que o PSD era também o partido da "esquerda moderna” , vinha da incomodidade da esquerda antiga em perceber que não só partido ia buscar votos à dita "esquerda moderna” , como também era capaz de fazer uma política infinitamente mais consequente pelos mais pobres e necessitados do que toda a retórica "solidária” do PS . Presumo que , nalguns ouvidos com memória na "esquerda antiga” , seja como lembrança desse temor que soaram as recentes palavras do mesmo Cavaco criticando o governo Guterres pela enorme insensibilidade social que demonstrou . O problema é que se achassem que isto era apenas uma vaidade bizarra do professor, não ficassem tão perplexos e incomodados . De uma forma que o corpo compreende, embora o pó da cabeça recuse , eles sabem que é verdade e que é daí que vem o perigo para a "esquerda antiga” .
Por isso é fácil perceber porque razão é que a "esquerda”, tão preocupada com a sua "renovação” nas palavras do Eduardo Prado Coelho ou do Edgar Correia , nunca é capaz de discutir aquilo que talvez lhes desse mais ensinamentos críticos a sua relação com o PSD . Mostrariam certamente mais imaginação e acertariam mais na mouche se o fizesssem , do que ao continuarem enredados nos sempiternos problemas de mastigarem no grande almofariz do PS todos os grupos e tendências . Desse almofariz nunca saiu mais nada senão retórica "solidária” , subsídios para um gigantesco establishment e o próprio Guterres . Sempre foi assim desde 1985 , desde a Convenção , desde os Estados Gerais , etc. . etc. e , enquanto não meterem lá o PCP , é isso a "renovação” da esquerda .
Algumas pessoas do Clube da Esquerda Liberal perceberam no quando apoiaram Soares em 1985 e Cavaco em 1987 , porque não queriam viver nem numa democracia tutelada por poderes "revolucionários” que era o que Eanes , Zenha e Pintasilgo propunham , nem queriam continuar a disfarçar o nosso atraso debaixo do "caminho para o socialismo” que era o que o PS pretendia , querendo impedir a todo o custo a revisão da parte económica da Constituição . Soares e Cavaco quebraram a "esquerda antiga” e enquanto isso não for percebido , nas suas razões e na sua forma , a esquerda em Portugal será sempre pouco mais do que o boyismo do PS .
Mas , voltemos aos "se” iniciais quanto à aliança à direita . Só a ignorância política da maioria dos nosso jornalistas e a sua dependência do mero jogo táctico dos conflitos internos dos partidos , com a sua saborosa simplicidade e rudimentar descrição de ambições , vaidades e intrigas , tão atractivas para a mesma idade mental e incultura dos políticos que as fazem como dos jornalistas que as relatam , é que pode deixar incólume aquilo que foi mais importante na declaração pós eleitoral de Paulo Portas . Esta foi , num homem que abunda em declarações tão tonitruantes como habilidosas no seu marketing , uma declaração pura e simplesmente anti democrática , quer .na forma quer na substância . É por isso grave de mais para passar desapercebida e constitui para o PSD uma razão de fundo para dizer ao PP que , um partido que faz declarações como aquelas ou que as permite ao seu líder , não tem cabimento em qualquer aliança não por ser de direita , mas porque alimenta um discurso anti democrático incompativel com o ideário do PSD .
O que Paulo Portas disse é fácil de resumir . Disse que o PP era ele , ou seja que o PP era uma espécie de partido unipessoal que se resumia à acção do seu chefe , e que o que ele queria , podia ou fazia era a única bitola para se medir o sucesso ou o insucesso do partido . O número de "eus” do discurso era tão grande, que na verdade, o discurso era "eu” . Esta concepção de partido não é democrática. Depois repreendeu o povo pela sua ingratidão , tão injusto ele tinha sido com o "eu” majestático que está à sua frente . Há nessa repreensão também algo de anti democrático porque uma coisa é discordar das opções eleitorais da maioria do povo , que até é muitas vezes saudável , outra é entender que um qualquer programa iluminista e iluminado , gerado por um gigantesco "eu” , que se resume ao que o "eu” quer , pode e manda , vale em democracia mais do que os votos que não lhe dão . Isto para o PSD deve ser um problema insolúvel, e enquanto permanecer assim não permite alianças .
Do mesmo modo, nestas ultimas eleições, o discurso securitário , e hostil á emigração , que tem legitimidade em democracia contrariamente ao que diz a "esquerda antiga” , perde a se for assumido como central e se encontrar como modo de expressão certas palavras e actos que lhe dão um conteúdo extremista e violento . Paulo Portas na sua campanha de Lisboa , ultrapassou todos os limites que antes mantinha , e fez declarações que em nada se distinguem das de Le Pen , a não ser pela língua em que foram proferidas . Isto para o PSD deve ser também um problema insolúvel, e enquanto permanecer assim não permite alianças .
Por ultimo, Portas fez uma pequena manipulação para se sentar no lugar dos vencedores abanando com as coligações que fez com o PSD e esquecendo se de que , nas mesmas eleições locais , o PP também fez coligações com o PS . Essas ele não abanou e compreende se porquê. Mostrou assim que a politica de coligações foi feita com má fé . Embora isso não abone Paulo Portas , esta parte do discurso é compatível com a democracia , que inevitavelmente tem uma componente de baixa politica em nome da sua natural imperfeição . Isto pode ser resolvido e , mesmo perante um parceiro notoriamente unreliable , as alianças são possíveis desde que alguém mande .
O PSD , se for um partido de princípios , não pode centrar o seu "problema” com o PP apenas nas aventuras da liderança entre Portas e Monteiro , nem em saber se este é ou não é seguro . Já se sabe que não é .O principal obstáculo nas suas relações com o PP é o carácter que o seu líder está a dar à sua acção politica , tornando a incompatível com o terreno da democracia . O PSD deve por isso falar para a direita moderada , esforçando se por representa-la , mas isolando o PP .
2 Comments:
Sempre pensei que a social democracia fosse uma esquerda moderada que não se revê nas "benfazejas" solidariedade e caridade judaico-cristâs. Com o tempo apercebi-me que o psd tinha tinha pessoas de direita e de esquerda. Não percebo é a forma como Paulo Portas se impregnou na política do psd. O pior é que desde sempre houve militantes a avisar para o carácter exremista e demagogo do actual ministro da defesa...
www.zangalamanga.blogspot.com
Sempre pensei que a social democracia fosse uma esquerda moderada que não se revê nas "benfazejas" solidariedade e caridade judaico-cristâs. Com o tempo apercebi-me que o psd era constituído por pessoas de direita e de esquerda. Não percebo é a forma como Paulo Portas se impregnou na política do psd. O pior é que desde sempre houve militantes a avisar para o carácter exremista e demagogo do actual ministro da defesa...
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